Se resolver usar meus textos para finalidades pessoais, por favor, tenha a delicadeza de citar a fonte.

Genes da covardia?

Bastou-me uma olhadela na primeira página dos principais jornais de hoje (se acaso resolver fazer o mesmo recomendo um Dramin com suco de maracuja forte antes) para me sentir completamente desolado.
O que fazer quando os coronéis (não me refiro aos militares ou aos de faz de conta de Dias Gomes) grilam as casas legislativas e fazem dos Poderes suas concubinas assentado-os em seus colos gordos como fazem com suas "sobrinhas"?
O que fazer quando até nomes em que ainda depositávamos alguma fé como Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque também ostentam pantufas de lama?
O triste é que faremos nada, a não ser nos entristecer porque ao que parece, ser podre e covarde, mais do que já fazer parte de nossa cultura, está, a exemplo dos coronéis, grilando nossa genética.

Aldo Masini

Cortella, Moura e Bandeira - Bandeira, Moura e Cortella

Recente, um texto do senhor Cortella (grande sujeito, admirável na clara precisão de suas idéias) me pôs na direção do poeta mineiro Emílio Moura. Curioso, fui garimpar sua obra farta em jóias prontas.
Dentre elas encontrei a que abaixo transcrevo num ato de tríplice homenagem, que embora, convenhamos, singela, é absolutamente sincera, sem mascara, como me ensinou senhor Cortella.


FOI INÚTIL
Emílio Moura

"Estás em tudo que penso,
Estás em quanto imagino."
Manuel Bandeira

Entre nós dois, que puseram?

O mar, o rio, a floresta?
Levantaram tanta pedra,
levantaram tanto muro,
gritaram tantas palavras...

Mas, de que foi que valeu?

Que foi que valeu tudo isso:

O mar, o rio, a floresta,
tanto muro, tanta pedra,
e tantas, tantas palavras,
se estás em tudo que penso,
se estás em quanto imagino?

Aldo Masini

Legítima nostalgia

Conheço gente (novinha, jovenzinha) que certamente não me entenderia, ou minimamente me chamaria de nostálgico. Que seja.
Antevéspera do Dia dos Namorados e, noves fora o consumismo maquiado por presentes caros, bombons finos (aos Godiva porém me rendo), jantares glamorosos, motéis suntuoso transformando o valor monetário das coisas em símbolo de bem querer (coisificação do sentimento), continuo entendendo o namoro como a melhor fase de nossas vidas.
Mas não o namoro de hoje (ai entra a nostalgia), namoro de tempos velozes, urgências urgentíssima (essa expressão me dá até taquicardia), sexo rápido e performático. Sinto falta dos meus tempos de adolescente, tempos ingênuos das matinês no cine Festival em Pinheiros, dos passeios nas tardes de domingo, dos ires e vires de mãos dadas nos coletivos, dos beijos demorados entremeados de suspiros, da mão boba que roçava delicada os peitinhos da menina, do brilho nos olhares, das despedidas intermináveis no portão.
O que houve com tudo isso?
Ainda está em cada um de nós, basta deixar aflorar.
Não seria uma ótima sugestão de presente para o dia 12, Dia dos Namorados?
Pense nisso.


Aldo Masini

Ócio produtivo

Comecei a semana de trabalho falando de preguiça e algumas das coisas positivas que dela podem advir.
Mas, não há como falar de ócio sem nos lembrar de Domenico De Massi e seu “Ócio Criativo”.
O texto de De Massi defende que por mais que as máquinas evoluam, elas não serão capazes de criar artisticamente; apenas ao ser humano cabe criar arte e que por isso, no futuro, os trabalhos mais valorizados serão os artísticos.
Considerando o que diz Arthur da Távola sobre “instâncias criativas" (“há duas instâncias realmente criativas no ser humano, o ócio e o cio”), gostaria de iniciar essa sexta-feira, fechamento da semana de trabalho, retomando a questão da preguiça e te desejando um final de semana absolutamente criativo.
Curta o ócio e o cio. Faça arte.

Aldo Masini

Preguiça


Outra segunda-feira e... preguiça
Já tentei excluir tal palavra do meu vocabulário
Consigo até não pronunciá-la, mas não pensar nela me é impossível
Acho que tenha a ver com minha idéia particular de prazer
Todo prazer requer um estagio de preguiça
A letargia é um bem necessário
As manhãs de domingo
As tardes de férias
As noites de paixão (obviamente depois do ápice da paixão)
Quero entender a preguiça sem a pejorar
Preguiça como a recompensa da disposição
Então, depois te tais considerações
Me resta deseja que a segunda-feira

E toda a semana que segue
Seja de muita disposição
Assim, quando a próxima manhã de domingo chegar
Minha preguiça será ainda mais legitima

Aldo Masini

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini