Se resolver usar meus textos para finalidades pessoais, por favor, tenha a delicadeza de citar a fonte.
Páscoa
- Moço, moço. Compra um chocolate?
- Ô querido, quanto é?
- Um é dois e três é cinco.
- São cinco.
- Como?
- Você disse é cinco. O certo é dizer são cinco.
- Ah moço, me perdoe discordar, mas se eu dissesse que três são cinco, iria parecer que estou dizendo que um valor é igual ao outro e todos sabemos que três é diferente de cinco.
Achei interessante a argumentação do menino, especialmente por se tratar de um garotinho tão jovem, uns sete oito anos. Se tanto nove.
- Querido, eu vou comprar seus chocolates mas, me diz uma coisa antes, você vai à escola?
- Vou sim. Escola pública, de qualidade questionável como diz meu pai. Mas ele também diz que se eu estudar e ler bastante, vou superar as dificuldades decorrentes dessa falta de qualidade.
- Seu pai está certo. Como ele se chama?
- Omar. Ele é muito estudioso.
- Dê um abraço nele. Ele está correto, o caminho é mesmo a educação. Vou ficar com seis chocolates. Dez reais certo?
- Certo. O senhor está fazendo um bom negócio moço. Compramos esses chocolates por atacado e conseguimos vender aos nossos clientes por um preço mais atraente, mesmo sendo véspera de Páscoa.
Eu estava encantado com aquele menino que falava tão corretamente usando de um vocabulário que não se espera encontrar no mundo infantil.
- Não é você quem os compra é?
- Não senhor, é a minha mãe e ela é muito boa para negociar com nosso fornecedor.
- E vocês conversam sobre isso em casa?
- Sim, ela sempre conversa comigo e com minha irmã sobre o dia dela no trabalho. E também nos faz contar como foi o nosso na escola, depois nos ajuda com a lição de casa e com a leitura. Ela nos explica tudo direitinho, para que se alguém nos perguntar, a gente saiba explicar como é calculado o nosso preço.
Ficava cada vez mais curioso sobre aquele garoto e sua família e resolvi dar corda.
-  Você me convenceu com relação ao preço, mas, o fato de ser Páscoa interfere nisso?
- Interfere sim moço. Os fabricantes preferem investir nos ovos, o que faz reduzir a produção do chocolate em barras.
- Mas no final é tudo chocolate do mesmo jeito não é?
- É sim, mas sou obrigado a concordar que os ovos têm um apelo tradicional que acaba justificando sua procura. Não seu preço.
- Apelo tradicional é?
- É, afinal, o ovo simboliza o renascimento, a ressurreição de Jesus Cristo, que é a essência do feriado pascal. O senhor sabe que ao contrario do que muitos pensam, não é o Natal o feriado sacro mais importante e sim a Páscoa?
- Ah sim, já ouvi falar. Não sou religioso.
Então notei que alguma coisa mudou no  brilho do olhar do menininho.  
- Como assim? O senhor não é cristão?
- Eu acredito em Deus sim querido, e também no Cristo, mas não sou beato entende? Não costumo ir a igreja.
- Mas então o senhor reza.
- Ás vezes.
- Aposto que o senhor reza mais do que pensa.
- Ah é?
- É sim. É que a gente não percebe, mas Deus está em contato com a gente o tempo todo.
- Me fala mais sobre isso.
- Deus está no nosso coração, então, mesmo que às vezes a gente não se lembre dEle, Ele continua lá. E a cada vez que por um motivo ou outro a gente diga coisas do tipo, “ai meu Deus”, diante de alguma contrariedade ou dificuldade, Ele nos ouve.
- Como é o nome de sua mãe querido?
- Lucia.
- E o seu.
- João Pedro.
- O meu é João Marcelo, somos meio xarás. João Pedro, eu adorei a nossa conversa e gostei ainda mais da sua família e dos valores com os quais ela te educa. Por favor, dê um forte abraço em seus pais, a dona Lucia e o seu Omar. – E estendi a mão àquele garotinho tão especial.
- Obrigado seu João Marcelo – e pegando em minha mão continuou. – Agora preciso ir. Espero que a gente se encontre de novo.
- Eu também. Até breve João Pedro.
- Até breve seu João Marcelo.
- João Pedro, me chame de Johnnie, é assim que meus amigos me chamam.
- Até breve então seu Johnnie. E boa Páscoa.
 
A. Masini




 

Da falta de estrura às mortes anunciadas

Nos últimos minimante trinta dias, diuturnamente, um incontável numero de caminhoneiros, trabalhadores dos mais corajosos e sacrificados, se vêm presos em congestionamentos de pelo menos vinte quilômetros na Rodovia Cônego Domenico Rangoni. Tudo isso por conta da dificuldade no escoamento da produção de grãos em razão da absoluta obsolescência estrutural e profissional dos portos que, além de condenar caminhoneiros e turistas à esperas de intermináveis horas, têm provocado perdas diárias de contratos internacionais bilionários por inadimplência de prazos.

Mortes reiteradas, anunciadas como desgraças com tempo marcado para ocorrer, se repetem no Rio de Janeiro em razão da ocupação irregular de locais impróprios revelando a negligência do poder público tanto na fiscalização quanto na orientação e remoção das famílias, mas, principalmente, pelo descaso desse mesmo poder público ante a necessidade de obras destinadas a evitar tais mortes.

As mesmas e também anunciadas mortes se repetindo de forma idêntica no nordeste em razão da escassez de água mas também e principalmente por conta, nova e sistematicamente, da mesmo descaso do poder público que continua não realizando as obras necessárias a evitar novas mortes.

E fica a pergunta, onde estão as obras do tão alardeado e eleitoreiro PAC?

No outro polo dessa maldita equação, criminosos, inclusive peculatários já condenados, assumem cargos públicos como se inocentes fossem. Gente rasteira e presunçosa que apesar do cinismo de seus sorrisos, denotadores de absoluto desprezo,  trazem mãos manchadas do sangue dessa gente humilde que continua morrendo de forma anunciada e até certo ponto esperada ano após ano.

Tudo isso sob os auspícios de um Governo que se dedica muito mais à ações festivas como a milionária viagem ao Vaticano e o absurdamente caro loteamento de ministérios, hoje em numero de trinta e oito (38), que como closets, acomodam em seus cabides sem numero de “companheiros” que com sua notória arrogância e incompetência, só fazem piorar o que jamais chegou a ser bom.

Observando os efeitos e as causas, fica muito claro que o PT de Lula fez do Brasil uma ratazana onde os asseclas do senhor feudal de hálito etílico mamam em fartas tetas enquanto outros simplesmente sobrevivem à beira de abismos (literalmente) ou, simplesmente, morrem á mingua.

A. Masini
Prévia de outono

Às portas de outro outono,
O frio que convida ao aconchego já se faz sentir na pele.
Mas é na alma que corta,
em especial à noite quando aliado ao sereno,
bate-nos às portas do coração carregando saudades.

Se por azar ou incompetência estamos sós,
quando inevitáveis lembranças de calor compartilhado,
carinhos e sonhos compartilhados,
ora jacentes todos nos tempos idos,
são-nos sussurrados voláteis aos ouvidos,
a solidão se multiplica em pungências
e o que era apenas recolhimento
dá lugar à urgência; faz-se tormento

Mas outono não é pra isso
É céu colorido e agasalho elegante
É batom vermelho e bota de cano alto
É caminho com musica de folha pisada
É chocolate com leite e broa airosa
É sorriso com perfume de café
e beijo com sabor de fruta doce.
Outono não é solidão. É antes comunhão.
Especialmente quando o dia amanhece.

A. Masini
 
 

Das coisas mágicas que nos cercam

Algumas coisas trazem em si algo de mágico.

Não é apenas na beleza exatamente, mas algo de essencial, alguma coisa de sua própria natureza surreal.

Um misto de emoções antagônicas e complementares; alegria e tristeza, felicidade e angustia, aventura e quietude, euforia e paz.

Dentre tais coisas estão as chuvas, ora mansas, ora intensas. Por vezes trazendo caos, noutras, maioria delas, vida e encantos; como bênçãos líquidas despejadas do céu.

O outono, com seus sabores e aromas. Ventos que brincam com os cabelos das moças e, rasgando nuvens em fiapos, ajudam o crepúsculo a pintar o céu em tons únicos.

O mar e tudo o que nele há mas de que não me atrevo falar agora. Caberia aqui um romance inteiro para descrevê-lo modestamente.

Os rios que embora corram, permanecem, e por isso nos deixam com a sensação ilógica de que são outros sendo os mesmos.

A lua e suas tantas faces (me recuso a aceitar apenas quatro) e, se merecia o mar um romance só seu, a lua mereceria um Lusíadas para falar apenas de sua luz.

É verdade, a natureza realmente nos brindou com magias magistrais cujas emoções provocadas se aproximam do indizível pois que não se traduzem em palavra humana.

Todavia, o homem também foi capaz de criar ao menos uma, que aos meus olhos e coração, poderia também se enquadrar no seleto rol das tais “coisas mágicas”.

Os trens e todas as histórias que os acompanham desde as plataformas de embarque...


A. Masini
Criatividade
Estávamos conversando sobre qualquer coisa que agora me escapa à lembrança, porém, à medida que concluir meu relato, sei que muitos entenderão o motivo do esquecimento e como eu mesmo, perceberão tratar-se de questão de menor importância.
- Não tio, o rosto do palhaço é pintado de branco. Não é cor da pele.
Ante tal afirmação, incauto, pensei em provocá-la fazendo-a pensar na pluralidade de matizes que a pele pode ter quando consideramos a quantidade de pessoas e fatores que determinam tais cores.
- Cor da pele querida? Mas, que cor afinal é a cor da pele?
E, antes mesmo de fazer a carinha de interrogação que ingenuamente imaginei que faria, a danadinha me respondeu.
- É o rosa “desligado”.
Não ví meu próprio rosto, não havia espelho ali, mas sei que fiquei eu mesmo com a tal cara de interrogação, para não dizer cara de palerma.
- Rosa “desligado” amor? Que rosa é esse?
E ela então, com a desenvoltura de uma atleta olímpica e a graça de uma bailarina atrapalhada correu dali sem dizer palavra para voltar em seguida trazendo um lápis de cor já pela metade respondendo orgulhosa.
- É esse tio, esse rosinha.
Era rosa, rosado, rosinha; aquele rosa claro pastel opaco sem graça apagado enfadonho. Cor da pele, por convenção dos coloristas, como se todos nós tivéssemos cor de boneca.
- Querida, então é esse o rosa “desligado”?
- É esse tio. A “prô” disse para usar esse rosinha para pintar a carinha das meninas e meninos que a gente desenha. Mas eu gosto mais de pintar de azul ou de verde, quando desenho um menino palmeirense.
E mesmo correndo o risco de invadir uma seara que não é a minha, me arrisquei a implicitamente contradizer a professora, a “prô”, como ela disse.
- Querida, não há regras para pintar, você pode usar as cores que achar bonitas. – mas como continuava curioso quanto à adjetivação atribuída ao rosa cor da pele emendei. – Mas querida, por que rosa “desligado”?
- Porque o outro é rosa choque né tio.
Então me dei conta da beleza singela da criatividade infantil. Uma beleza pura e sem tamanho que às vezes, infelizmente, tentamos limitar com nossa imaginação “desligada”.

 
A. Masini
Oito de Março

Fruta e flor café com pão
Sede? Anseio? Seio e sonho
Lua lume, noite em claro
Colo afeto abraço encanto
Sono bom, manhã melhor
Diuturnos dia e noite
Irmã amiga companheira mãe
Lágrima vai sorriso vem
Colo afeto abraço encanto
Mulher, e ponto.

A. Masini













De mudança

Na mochila às costas e na mala de mão, levava o que de material entendia como seu; roupas, livros, uma caixa de lápis de cor, algumas bolinhas de gude de valor sentimental, uma máquina fotográfica e uma imagem de São José; esses dois últimos itens acomodados com especial carinho; eram presentes de sua avó.  A herança tangível de uma vida ainda jovem e já tomada de saudades; saudades que naquele momento da partida se acentuavam além do imaginável.
Na lembrança carregava o cheiro das carambolas maduras à beira da represa, as tardes silenciosas com corpo largado n’água e olhos perdidos no céu, os sabores e dessabores das amoras no quintal de casa, os sorrisos, as formas e as pintas de Selminha. No coração a amizade e os tantos conselhos de “Seu Túlio”; amigo, tio, irmão mais velho, anjo de guarda tudo em um único homem. Na alma sua avó, a mãe que conheceu. O amor mais intenso que experimentou e cuja ausência recém concretizada o fazia desejar afastar-se de lá como quem foge, o que lhe dava esperanças de ver a dor da perda da avó diminuída.
Com esse cabedal de coisas e lembranças parou pela ultima vez junto ao portão de madeira, olhou a casa com a amoreira ao fundo, o quintal de terra batida onde gerações de corujas ainda nidificavam, as janelas com cortinas adornadas com o delicado crochê, trabalho de mãos que jamais o afagariam novamente, a porta por onde tantas vezes a vó lhe soprava um beijo quando se ia para a escola.
Com o mesmo pesar respondeu ao aceno de “seu Túlio” que naquele momento, contrariamente à costumeira pachorra, jazia em pé no alpendre da casa vizinha. Não soube identificar se o velho sorria ou chorava mansinho mas, com medo de que a segunda hipótese fosse a verdadeira, acovardou-se ante ao desejo de trocar com ele um outro último abraço e tentou seguir.
- Então você vai mesmo para a cidade menino?
- Vou sim “Seu Túlio”. Vou morar com a tia Lucia e estudar por lá.
- Vá com Deus então menino, mas volte de vez em quando. A vó partiu, mas eu estarei aqui sempre que precisar.
E com os olhos já encharcados, correu até aquele senhor que o viu e ajudou crescer. – Obrigado “Seu Túlio”, obrigado por tudo. O senhor é o melhor amigo que um menino pode querer. Melhor até que um cachorro.
- A comparação poderia parecer estranha para quem não te conhece filho, mas para mim, que o vi crescer, foi o elogio mais honesto que um velho poderia receber. Agora vai menino, vai que o próximo passo de sua jornada o espera. Corra para alcançar seus sonhos, são eles que nos conduzem pela vida.
E sem dizer outra palavra desenroscou-se do abraço do amigo, secou como pode os olhos e fazendo grande esforço para não olhar para trás se foi com passos rápidos.
Sentia-se sozinho e assustado ao chegar na rodoviária. Já havia viajado antes, quando sabia que naquela casinha que ficou para traz o seu retorno seria esperado. Agora era diferente, não haveria mais alguém para abraçar no regresso e a insegurança de não ter mais quem o esperasse fazia com que se sentisse um exilado.
Já era noite quando embarcou cabisbaixo no ônibus com destino a São Paulo. A maioria dos lugares estavam vazios, inclusive o seu vizinho, o que considerou uma sorte pois que preferia dormir a ter de dar atenção a alguém que eventualmente puxasse conversa. As poucas pessoas à bordo estava silenciosas e tão logo aquietou seu coração, adormeceu.
- Moço. Hei, mocinho. Você está dormindo?
Abriu os olhos e viu uma moça que o olhava por cima do encosto do banco à sua frente. Muito bonita, cabelos bem cuidados formando uma franja, olhos grandes e expressivos, pele morena clara, um sorriso suave. Demorou-se um pouco para compreender o que havia, tinha algo de surreal naquela menina o acordando daquela forma, tanto, que antes de responder, chegou a pensar se não estava sonhando.
- Eu estava dormindo sim, mas você me acordou.
- Você não acha um desperdício?
- Dormir? Claro que não. Dormir é uma necessidade.
- Mas a noite está linda lá fora. Você consegue ver a lua ai da sua janela? – E dizendo isso saiu de seu lugar e foi acomodar-se ao lado de João. – Ela está linda, ainda baixa, enorme e amarela.
- Desculpe moça, mas eu não estou de bom humor.
- Que houve?
Notando que moça não o deixaria em paz, resolveu que o melhor a fazer seria trata-la com educação.
- Estou me mudando para São Paulo e estou triste por ir-me embora.
- Então por que vai?
- Vou estudar lá.
- Aqui não há escolas?
- Há sim, mas tenho também outras razões para partir.
- Que razões?
- Querida, eu nem sei seu nome e você quer saber da minha intimidade?
- Desculpe, não imaginei que suas razões fossem de foro íntimo. De qualquer forma, me chamo Alice. – E estendo a mão macia completou. – Alice Songerie e você?
- João Marcelo Pirro. Seu sobrenome é francês?
- Não sei, soa como se fosse né? Mas tenho nada de francesa viu? E o único perfume de que realmente gosto é cheiro de banho.
- Eu adoro cheiro de banho. Gosto também de cheiro de carambola e de cheiro de chuva.
- Eu amo a chuva, principalmente as mais pesadas, com raios e tal.
- Você já viu tempestade na praia? Ouvi dizer que é fantástico.
- Não, nuca vi mas gostei da ideia. Vamos?
- Vamos onde?
- À praia. Ver uma tempestade.
- Você é doidinha né?
- Não sou doidinha. Só acho que temos uma dívida com a vida, vive-la com paixão.
- Meu desinteresse é assim tão evidente?
- Não tem cara de ser exatamente desinteresse. Está mais para solidão. Eu fiquei te olhando enquanto dormia e imaginei que poderia gostar de um pouco de irreverencia na sua vida.
- Percebeu é?
- Percebi sim. E agora que a irreverencia chegou – fez um gesto demonstrando o próprio corpo - aposto que vai ver a vida com outros olhos. Pode até se interessar mais por ela.
- E você seria essa irreverencia né? Bom, tomara Alice. Minha vida tornou-se solitária sim e isso tem sido doloroso. Sabe, você está certa, vai ser muito bom mudar o foco e sorrir para variar.
- Viu, já está mudando.
- Verdade. Gostei de você Alice. Alice Songerie.
- E eu de você;  Johnnie.
- Johnnie?
- É, João Marcelo Pirro é muito sem graça.
- Tai, gostei disso também.
Rindo – Viu como sou ótima?
- Ótima eu ainda não sei, mas tenho de concordar que você é surpreendente. Não imaginei, quando me acordou, que em tão pouco tempo de conversa você fosse me trazer luar, tempestades, viagens à praia, novos perfumes, novos sorrisos e até um nome novo. Começo a me sentir ansioso para saber mais de você e descobrir o que mais virá de nossas conversas.
- No mínimo novas surpresas Johnnie e muitos sonhos.
- Sonhos?
- Sim querido, sonhos, o combustível da vida, aquilo nos move através dela.
 
A. Masini

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini