- Alô. Alice?
- Sou eu
querido. Diz.
- Tem como a
gente tomar um café hoje?
- Café? Xiii...
coisa boa não pode ser.
- Pois é.
- Que houve
querido.
- Estou triste.
- Acabou o Jack
Daniels?
- Não.
- Como assim,
“não”?
- Não. Não
acabou.
- Não vai dizer
nada além do “não”? Algo como “não, sua ridícula”.
- Estou cansado
Alice.
- Cansado para
me chamar de ridícula?
- Estou falando
sério lindona.
- Cansado e
sério. Isso tá com cara de papo cabeça com o Gabriel.
- Ridícula.
- Querido, diz
pra mim que você não tomou porre com ele de novo.
- Estivemos
juntos sim.
- Sabia. Você
foi naquela viagem besta com ele né?
- É.
- Porra
querido, você sabe que isso não dá certo.
- Alice, ele é
como você pra mim. As duas melhores pessoas que conheço.
- Como eu coisa
nenhuma. A menos que tenha passado a transar com ele também.
- Dá pra gente
falar sério?
- Deve ser
grave mesmo, te dou uma brecha dessas e você nem faz graça... Querido, eu adoro
o Anjo também, você sabe. Mas você e ele são o que são.
- E o que somos
Alice?
- Dois caras
incríveis totalmente diferentes.
- Eu estava
achando tudo tão sem sal, sem açúcar. Achei que ouvi-lo poderia me ajudar a
entender.
- Seu negócio
não é com o doce ou salgado querido, seu negócio é com o apimentado.
- Não fala
assim Alice. Às vezes eu realmente penso que poderia ser legal ser diferente.
- Ouvir o
Gabriel é uma delícia. Ele é paciente, usa bem as palavras, tem profundidade e
acredita no que diz. Mas não dá para um cara como você tentar ser como ele.
- Como não
Alice?
- A pergunta a
ser feita não é essa.
- Qual seria
então?
- Por que? Por
que ser como ele?
- Não quero ser
como ele, só mais parecido com ele.
- Mas você
sempre se aceitou tão bem como é. Mais que isso, você se gosta; é dos caras
mais narcisistas que conheço
- Eu me gosto
sim lindona, mas acho que posso ser melhor. Mais consciente, menos egoísta.
- Mas por que
isso agora? Por que mudar?
- Não quero
mudar, quero apenas explorar novas possibilidades.
- Tipo...
ampliar os horizontes?
Gargalharam
- Não sua
louca, apenas tentar novas abordagens.
- Ah Johnnie,
Johnnie... já entendi, algumazinha por ai te fez acreditar que prefere os bons
moços né?
- Caralho
Alice, você tem sempre de achar que meu mundo gira em torno da mulherada?
- E não é? Você
só pensa nisso.
- Mentira sua.
- Ah é?
- É mentira
sim, penso em macarronada também.
- Que bom, já
melhorou.
A. Masini
Hoje a minha rua está silenciosa além do costumeiro. Sim, há ainda alguma chuva e isso contribui para que a quietude se imponha, mas não é exatamente desse tipo de silêncio, advindo da ausência de gentes a que me refiro, é antes um silêncio recluso, de comoção assustada e contida, de estupefação interrogativa. Como pode uma jovem senhora cometer tal desatino?Tal pergunta também me venho fazendo desde ontem, e hoje, no Dia Internacional da Mulher, me ocorre que é preciso muito desespero, muita dor, muita certeza de que não há mais para onde caminhar.
Relembrando de outras tragédias semelhantes recentes, penso que a sociedade tem sido dura demais com nossas mulheres. A mulher moderna é pressionada muitas vezes além do suportável quando lhes é imposto que sejam as melhores mães, as profissionais mais competentes, as esposas mais atenciosas.
Não bastassem as obrigações decorrentes da vida em família, para atender a uma exigência criada pela sociedade de consumo, muitas mulheres, mais seduzíveis, susceptíveis ao covarde bombardeio midiático, têm de manter seus corpos torneados, o guarda-roupa de acordo com a moda, os cabelos a pele e as unhas devidamente cuidados a cada semana. Happy houres a que não podem deixar de comparecer, livros de leitura “obrigatória” (maioria das vezes desperdícios de papel como o tal que falava dos tons de cinza), aquele sapato novo, aquela viagem que a melhor amiga recomendou, aquele cliente que a trata como se fosse funcionária dele e não da empresa. Não deve ser fácil, mesmo que seus dias fossem de trinta horas.
Refletindo sobre tudo isso me ocorreu também, nesse oito de março, que em lugar de desejar felicidade, alegria, flores etc. às mulheres que fazem parte dos meus dias, reconhecido do valor pessoal, que advindo da alma feminina, cada mulher traz em si, desejar-lhes que cuidem antes de si mesmas, cuidem de sua paz interior, cuidem de se harmonizar com suas forças e fragilidades, que cuidem de seu bem estar; que observem seus mundos e se observem neles para que não sucumbam a eles, não se submetam a eles e, sobre tudo, não morram por eles.
Um Dia Internacional da Mulher em que cada mulher opte por ser a mulher que é e não a que o mundo imponha que seja.
A. Masini
Às vezes
Às Vezes
Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.
A. Masini
Um mundo novo por detrás das palpebras
Um mundo novo por detrás das palpebras
Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.
A. Masini
Apartados (antes mesmo de unidos)
Aparados
De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?
De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?
De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?
Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?
Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?
Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?
A. Masini