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Noite de lançamento

Havia dias pairava na atmosfera uma mescla de ares de euforia; orgulho nacionalista, dever a cumprir, resgate da ética e alguma inevitável ansiedade.
Manifestações como há muito não se via tomavam conta das noites e ruas, ora desabrochando serenas como flores de maio, ora espocando lindas mas perigosas como os fogos de junho.
De toda forma, dentro de mim, gritava ávido por mudanças o garoto indignado que o tempo calou. Parecia que havia chegado o momento de fazer acontecer a limpeza há muito necessária e era nas ruas que a exigiríamos dos governantes. Todavia, naquela noite, uma urgência pessoal teria de vir antes.
Caminhei pelas mesmas ruas que na noite anterior o povo da cidade exercitou o ideal democrático de maneira encantadora. Não haviam protestos agendados para tal ocasião, mas a presença da polícia indicava que eles poderiam ocorrer.
Me preocupei um pouco, não por mim, mas por aquelas pessoas a quem iria a pouco encontrar, pessoas cuja segurança e bem estar me são preciosos.
Cheguei à galeria onde o encontro fora marcado e de pronto reconheci alguns rostos. Começava naquele mesmo instante surgir em mim os sorrisos que se tornariam incontáveis ao longo daquelas horas.
O recinto escolhido pela moça da livraria não podia ser mais bonito, pois que não eram apenas livros (livros jamais são apenas, até mesmo aqueles de que não gostamos), mas livros de artes. Música, escultura, pintura, moda, desenho, cinema, encanto. A tradução da visão humana no olho do artista.
E lá estava eu, coração aos pulos, cercado de livros e pessoas queridas que logo tomaram conta do local. Tantos rostos que tanto significam ao meu olhar, à minha alma e sonhos. Gente amiga que me veio abraçar, trocar palavras de afeto, compartilhar comigo sua generosidade, generosa amizade.
Amigos já de muito tempo em meio a amigos recentes, todos trazendo em comum o mesmo afeto que lá os levou. Não eram muitos, mas cada um e uma muito especial. Pessoas singulares que fizeram da minha noite uma noite igualmente singular, sem igual.
E, envolto por tanto afeto, não foram poucas as vezes que me perdia sem saber se sorria ou escrevia, vez que cada qual à quem se destinavam as palavras que escolhia, não merecia menos do que toda minha atenção, além de todo meu carinho e simpatia.
E assim se foi aquela noite em meio aos livros; repleta de sorrisos e abraços de amigos.

A. Masini
Grato, por todo carinho recebido nessa noite

12/06

O amor perfeito
Só germina
Se a gente
Não o mina

A. Masini

Do fogo em que queimamos


“...o fogo enrijece o que não consome.”
(Oscar Wilde)

E tantas foram as oportunidades em que ao fogo me expus, me entreguei...
Dele colhi todo calor e lume de sua chama,
Que ao arder viril em minha alma, fez também minha carne arder.
Minha pele também ardeu, no calor que acolhi,
Calor que sei, também em mim viveu.
Me senti feliz ao nele queimar,
mas que quando arrefeceu, arrefeci eu também.
Como purificada porcelana.

A. Masini







 


Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini