Se resolver usar meus textos para finalidades pessoais, por favor, tenha a delicadeza de citar a fonte.
Uma tarde à parte das outras

Deixei o pratinho da sobremesa sobre a pia já sentindo a letargia pós almoço se aproximar sedutora como uma viajante.

Passei diante meu quarto de persianas semi cerradas por onde adentravam uns fiapos de sol, a paz da rua quieta e um canto algo quimérico de sabiá.


A cama mesclada de pontos de luz mal definidos me chamou e incontáveis sonhos se apossaram de mim.

Uma tarde perfeita para me entregar àquele pedaço de vida apartado do tempo e esquecer todo o jacente fora daquele mundo insólito formado de sombra e luz, silencio e música, recolhimento e sonhos.

Me recostei no batente da porta e ali fiquei, me imaginando abraçado por aquele instante sem pressa.

Só; deitado em minha cama, embalado pelos acordes da sabiá, acolhido pela mornidão de um sol lânguido frouxo como a própria vida que ali se mostrava serena como um ribeirão preguiçoso.

O que mais poderia desejar? Que direito teria de esperar por algo mais sentindo meus pensamentos aquietados, meus instintos adormecidos, meus sonhos devidamente amparados?

Porém, lá do cantinho mais secreto do meu coração, saltada de um relicário perfumado, uma lembrança sublime há tanto tempo guardada se traduziu nesse algo mais ainda desejável; e esse lugar atemporal formado na penumbra vespertina em meu quarto, ganhou, naquele momento, mais uma estrela intangível. Um sorriso branco emoldurado de vermelho.

A. Masini

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini