Hoje, dia de
seu aniversário de 38 anos, pensou também nos tantos aniversários passados
distantes de casa e, naquela ainda madrugada fria de inverno constatou, ato
contínuo, que nada lhe fazia mais falta que o despertar em sua casa modesta com
o chamamento carinhoso de sua mãe.
Ao contrário
dos primeiros anos quando se ressentia da ausência dos amigos, das ocasiões
festivas e namoradas, naqueles últimos anos parecia ter aprendido a ser feliz
através do olhar e se comprazia com as paisagens mais diversas. Às vezes uma
exuberante mata quase intocada, noutras um campo arado pronto para o plantio.
Ocasionalmente uma estrada empoeirada onde um menino caminhava com seu
vira-latas ou uma formação de nuvens com aparência de fiapos coloridos pelo pôr
do sol. Naquelas oportunidades sentia saudades do mar que há tanto tempo também
não via.
Não era
porém da mesma qualidade e intensidade com que sentia saudades do som da voz da
mãe, do carinho de seu abraço, do cheiro de seu café que preenchia toda a casa
ainda antes de seu despertar.
Pois é, já
havia tempo demais longe de casa dedicando-se apenas àquele trabalho com o qual
tinha aprendido a ser feliz olhando janela afora e, focando-se nas alegrias de
suas tarefas, ligou o motor sentindo a vibração do trem despertar.
Aguardou,
atento aos mostradores e demais detalhes, o tempo necessário para pôr a
composição em marcha e, assim que partiu deixando atrás de si outra estação
rumo a novas paisagens pelas quais, solitário, levaria os olhos a passear
decidiu; o próximo aniversário haveria de despertar em casa, junto à mãe já
velhinha, cercado de seus carinhos, ouvidos atentos àquela voz serena e
embevecido pelo aroma de café fresco.
Que
seu Natal se traduza em oportunidade para voltar os olhos (e o coração) às
coisas simples onde a felicidade reside.
A. Masini