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Um Natal que resgate a simplicidade

Quando adentrou à máquina para seguir vigem interior adentro, antes de acionar o imenso motor, ponderou sobre os quatorze anos passados naquele trabalho. Tantas paisagens, tantos lugares e situações, tantas estações ferroviárias solitárias, tantas saudades de tantas pessoas.

Hoje, dia de seu aniversário de 38 anos, pensou também nos tantos aniversários passados distantes de casa e, naquela ainda madrugada fria de inverno constatou, ato contínuo, que nada lhe fazia mais falta que o despertar em sua casa modesta com o chamamento carinhoso de sua mãe.

Ao contrário dos primeiros anos quando se ressentia da ausência dos amigos, das ocasiões festivas e namoradas, naqueles últimos anos parecia ter aprendido a ser feliz através do olhar e se comprazia com as paisagens mais diversas. Às vezes uma exuberante mata quase intocada, noutras um campo arado pronto para o plantio. Ocasionalmente uma estrada empoeirada onde um menino caminhava com seu vira-latas ou uma formação de nuvens com aparência de fiapos coloridos pelo pôr do sol. Naquelas oportunidades sentia saudades do mar que há tanto tempo também não via.

Não era porém da mesma qualidade e intensidade com que sentia saudades do som da voz da mãe, do carinho de seu abraço, do cheiro de seu café que preenchia toda a casa ainda antes de seu despertar.

Pois é, já havia tempo demais longe de casa dedicando-se apenas àquele trabalho com o qual tinha aprendido a ser feliz olhando janela afora e, focando-se nas alegrias de suas tarefas, ligou o motor sentindo a vibração do trem despertar.

Aguardou, atento aos mostradores e demais detalhes, o tempo necessário para pôr a composição em marcha e, assim que partiu deixando atrás de si outra estação rumo a novas paisagens pelas quais, solitário, levaria os olhos a passear decidiu; o próximo aniversário haveria de despertar em casa, junto à mãe já velhinha, cercado de seus carinhos, ouvidos atentos àquela voz serena e embevecido pelo aroma de café fresco.

 
Que seu Natal se traduza em oportunidade para voltar os olhos (e o coração) às coisas simples onde a felicidade reside.
 
A. Masini

Escolho a beleza

Tenho olhos de que me orgulho
Não pela suposta beleza que dizem neles há
Mas pela real beleza, que com eles em tudo alcanço
Com esses olhos, Deus me deu também tal faculdade
De em tudo enxergar o belo

Por isso e com prazer sempre os levo a passear
Ora morro ora mar,
ora criança distraída brincando
ora moça distraída sorrindo

Quando nada disso no caminho encontrar
Só precisarei olhar para o céu,
qualquer pedacinho de céu
E ainda que oculto por grossas nuvens
A tempestade me vai encantar

Ou ainda, bastar-me-á a paciência  
Pois que chuva hora se vai
E se o sol já posto for,
Se não a própria lua,
alguma estrela há de brilhar

Sou feliz com os olhos que trago
Vez que onde quer que eu os pouse
beleza alguma sempre haverá
Mas se o dia quem sabe chegar
Quando meu olhar vier a falhar
Com esse coração que também Deus me deu
Belezas outras hei de com ele inventar


A. Masini

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini