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Sinistra congregação

O Estado Democrático de Direito descrito constitucionalmente, depende do bicameralismo, isto é, Câmara dos Deputados, em tese defensora dos interesses do povo e Senado Federal, em tese defensor dos interesses dos estados membros.
Todavia, quando nos deparamos com situações absolutamente corporativistas como a demonstrada ontem com a absolvição da deputada Jaqueline Roriz onde claro ficou o comprometimento entre os pares e não o esperado compromisso com o Estado Democrático de Direito, avalio como pertinente a pergunta, para que precisamos de um Congresso que legitima o que é espúrio e ignora os interesses que pela Constituição deveriam honrar?

Congresso como o nosso só serve aos congressistas, ou melhor, aos seus congregados; definitivamente, não nos serve.

Aldo Masini

Daniel

Tá certo, “mea culpa” a estória de secar lágrimas em calcinhas, piada das que contamos nas portas dos boteco na PUC mas, diante tantos comentário (confesso que não imaginava tal repercussão), me vejo forçado a contar a história (essa com “h”) de um tal Daniel, um mendigo que andava pelas ruas do Butantã em minha meninice, acho que minhas irmãs também se lembram dele, especialmente a caçula, que tinha medo do sujeito.
Daniel era um negro franzino de origem nordestina que, embora metido em roupas surradas e sujas, fazia questão do paletó e eventualmente até uma gravata. Carregava um “embrulho” de jornais como cabedal (típico dos chamados modernamente “não semelhantes” – termo horroroso diga-se).
Daniel tinha um apreço diferenciado por mim, sabia disso porque em várias oportunidades em que me encontrava, fazia questão de apertar minha mão, me olhava nos olhos, retirava do meio dos jornais uma faca e dizia, “Aldo, sempre que precisar de mim para te defender, pode contar com minha faca, você é gente fina” – ato continuo, me mostrava seu simpático sorriso desprovido de dentes.
Daniel falava muito bem, era articulado com as palavras, gostava de ler e conhecia detalhadamente a estória do personagem Tarzan, tanto dos livros (inclusive os originais em língua inglesa, que lia com fluência) quanto dos filmes e, a exemplo de meu pai, tinha preferência por Johnny Weissmuller.
Daniel me contou sua história de vida (contou-a também, uma versão mais heroica, para uma revista da época). Havia sido metalúrgico, letrado, morado com dignidade; já tinha sido feliz. Muitas eram as especulações sobre o que o tinha levado à mendicância, à violência, à sombra que havia se tornado.
Todas fantasiosas ou exageradas, mas eu soube da verdadeira, a mim Daniel contou. Desiludiu-se com o amor de sua vida, uma mulher cujo nome ainda fazia seu olhar brilhar. Quando ela partiu de sua vida deixando-o só na casa que para ambos havia construído, não suportou a dor e a ela se entregou até não se reconhecer mais. Se fosse poeta, teria morrido alcoolizado ou tísico, mas como era caldeireiro e abstêmio, matou-se apenas para a si mesmo.


Aldo Masini

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini