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Oito de Março (2014)

Hoje a minha rua está silenciosa além do costumeiro. Sim, há ainda alguma chuva e isso contribui para que a quietude se imponha, mas não é exatamente desse tipo de silêncio, advindo da ausência de gentes a que me refiro, é antes um silêncio recluso, de comoção assustada e contida, de estupefação interrogativa. Como pode uma jovem senhora cometer tal desatino?

Tal pergunta também me venho fazendo desde ontem, e hoje, no Dia Internacional da Mulher, me ocorre que é preciso muito desespero, muita dor, muita certeza de que não há mais para onde caminhar.

Relembrando de outras tragédias semelhantes recentes, penso que a sociedade tem sido dura demais com nossas mulheres. A mulher moderna é pressionada muitas vezes além do suportável quando lhes é imposto que sejam as melhores mães, as profissionais mais competentes, as esposas mais atenciosas. 

Não bastassem as obrigações decorrentes da vida em família, para atender a uma exigência criada pela sociedade de consumo, muitas mulheres, mais seduzíveis, susceptíveis ao covarde bombardeio midiático, têm de manter seus corpos torneados, o guarda-roupa de acordo com a moda, os cabelos a pele e as unhas devidamente cuidados a cada semana. Happy houres a que não podem deixar de comparecer, livros de leitura “obrigatória” (maioria das vezes desperdícios de papel como o tal que falava dos tons de cinza), aquele sapato novo, aquela viagem que a melhor amiga recomendou, aquele cliente que a trata como se fosse funcionária dele e não da empresa. Não deve ser fácil, mesmo que seus dias fossem de trinta horas.

Refletindo sobre tudo isso me ocorreu também, nesse oito de março, que em lugar de desejar felicidade, alegria, flores etc. às mulheres que fazem parte dos meus dias, reconhecido do valor pessoal, que advindo da alma feminina, cada mulher traz em si, desejar-lhes que cuidem antes de si mesmas, cuidem de sua paz interior, cuidem de se harmonizar com suas forças e fragilidades, que cuidem de seu bem estar; que observem seus mundos e se observem neles para que não sucumbam a eles, não se submetam a eles e, sobre tudo, não morram por eles.

Um Dia Internacional da Mulher em que cada mulher opte por ser a mulher que é e não a que o mundo imponha que seja.


A. Masini

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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini