Despertou
naquele quarto de hotel com o dia ainda por amanhecer, olhou para o homem ao seu
lado e, aflita, tentou não pensar a respeito. Era a primeira vez que o via nu.
Observou
as taças sob os aparadores ao lado da cama, a garrafa de vinho caída no chão
manchando a tapeçaria, seu material de trabalho atirado ao lado da escrivaninha
sobre a qual o havia posto antes de sair para o jantar, seu notebook ainda
ligado jogado na poltrona. Quis a principio atribuir à sua falta de costume com
a bebida o resultado da noite, mas sabia que não fora esse o motivo.
Entregou-se
àquele homem que por tanto tempo havia evitado; nunca efetivamente, pois que
sempre o deixava com alguma esperança, gostava dos jogos de sedução porque
sabia seduzir, conhecia a psique dos homens e manipulá-los a fazia sentir-se
senhora da situação, senhora de um poder ao qual noutros tempos fora submissa,
como se submete todo aquele que ama e acredita ser correspondido.
Sabia
assim de sua responsabilidade por estarem os dois ali e sentiu-se envergonhada
das lembranças do quê disse e das coisas que fez. Não por tê-las dito e feito,
vez que aquela era a forma com que se entregava, a maneira que lhe agradava
amar. O mal estar advinha, antes, por não ser aquele o seu homem, o homem com
quem havia sonhado viver o restante de sua vida, o seu amor, o seu prometido.
Aquele com quem havia aprendido a se soltar, a ser o que desejasse ser sem
qualquer pudor, sem qualquer constrangimento. Aquele com quem jamais precisou calçar
máscaras pois se fez merecedor de sua integral confiança. Seu confidente e
confessor, o depositário dos seus desejos mais íntimos, desejos esses agora
divididos com outro.
Sentiu
uma ponta de arrependimento, mas à medida que se apercebia dos detalhes ao
redor, as roupas atiradas ao chão, o cheiro do sexo, as sensações ainda
presentes em seu corpo, excitou-se e desejou aquele quase estranho novamente
mesmo sabendo que aquilo era errado, contrario a tudo que enfatizava em seus
discursos sobre honestidade. Refreou seu desejo e foi para o banho em conflito.
Enquanto
lavava o corpo chorou. Como pode chegar àquele ponto? Se entregar por carência,
trair o amor sincero que sentia, trocar seus valores por momentos efêmeros de
prazer? Desejou não ter realizado aquela viagem. Ah se pudesse voltar no tempo,
apagar aquela noite de sua vida, voltar intocada aos braços do seu amado.
Demorava-se
mais do que de costume no chuveiro, escovou tanto os dentes que machucou a gengiva.
Pensava no que faria ao sair daquele banheiro quando seu amigo adentrou ao box
e a abraçou sob a água quente. Estavam enroscados novamente e, embora ainda
chorosa, cedeu a todos os caprichos do amigo, amou-o novamente e repetiu com
ferocidade à exaustão tudo o que já havia feito com ele durante a madrugada.
Aquela
era ela, uma mulher que havia descoberto seus instintos e que naquele momento,
entre gemidos e xingamentos, mudou o seu destino. Não viveria mais de
expectativas e promessas, simplesmente, viveria.
A. Masini
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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo