Tenho acompanhado, infelizmente nem tão de perto quanto gostaria, os esforços de mães e pais do movimento Infância Livre de Consumismo para regulamentar a propaganda de bens de consumo destinados às nossas crianças. Luta difícil e heroica, como são todas as contendas entre pequenos e gigantes, como são todas as batalhas por justiça e liberdade.
Não me acho tecnicamente qualificado para discorrer sobre o tema, mas, movido por carinho, e esse entendo como fundamental para o trato com as crianças, em especial nesses tempos que a sociedade se move cada vez mais pelo valor econômico (distanciando-se do valor ético) e sem constrangimento classifica o ser por sua aparência e posses como se ele mesmo se tivesse tornado coisa economicamente valoravel, me sinto confortável para opinar.
Mas, o que há então de especial nos ditos “esses tempos” em relação aos nossos pequeninos?
Tenho observado um casal de sobrinhos de classes econômicas distintas, porém igualmente expostos aos “apelos” da máquina midiática, principalmente a televisiva.
Embora ambos sejam absolutamente amados por seus pais, e não cabe aqui qualquer distinção nesse quesito, enquanto um deles, por falta de recursos argumentativos de seus pais para dizer-lhe não, recebe, na medida do quê lhes é possível, boa parte daquilo que pede em razão da sedução da propaganda, a menina, por falta de condições econômicas de sua mãe, não tem a mesma “sorte” e em lugar de muitas das coisas que sua ingenuidade (por conta da forma covarde com que a propaganda a ilude) passa a indicar como necessárias, recebe “apenas” a atenção de sua mãe, que de forma muito simples e direta lhe explica não ter condições de atende-la.
O resultado naquele é uma alegria momentânea com o presente, que dura o tempo exato de sua curiosidade pelo novo bem, voltando em seguida para outras atividades, inclusive a fantasia com o quê estiver à mão, uma almofada, um canudinho, os próprios dedinhos, o que o deixa muito feliz. Nesta, um rápido olhar de desapontamento que ouso intuir não advenha da negativa da mãe, mas da compaixão com as dificuldades dela. Em seguida, mas não sem um longo, sincero e invejável abraço, da mesma forma que o primeiro, volta-se às suas atividades fantasiosas valendo-se do quê estiver à mão, uma almofada, um canudinho, os próprios dedinhos, o que a deixa muito feliz.
O que concluo é que ambas são crianças naturalmente felizes, imaginativas como toda criança e que merecem ser estimuladas a fantasiar, a criar suas brincadeiras; isso será importante para a formação de um jovem criativo e habilidoso no trato com as situações que a vida lhe apresente. Intuo ainda que com respeito à capacidade de compreensão dos pequenos, honestidade e coragem para argumentar valendo-se dos motivos legítimos para dizer-lhes não e, obviamente carinho, mais do que livrá-los de um crescimento distorcido que os exponha ao risco de não conseguirem identificar limites com clareza, será possível também ensinar-lhes a importante e tão necessária lição da compaixão.
A. Masini
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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo