Se resolver usar meus textos para finalidades pessoais, por favor, tenha a delicadeza de citar a fonte.

Cinco à mesa

- Passarinho, traz uma rodada aqui pra gente querido?
- Vê também uma daquelas porções de torresmo.
- Boa. Torresmo – uníssono.
- Caras; vocês já foram elogiados por alguma mulher?
- Eu já. Elas me elogiam o tempo todo.
- Ah maninho, algumas são mais mentirosas e elogiam sim.
- Outras cobram, por isso elogiam – risos.
- Tô falando sério pô. Hoje eu vinha caminhando e passei por duas meninas, eram meninas cara, tá entendendo, de uns quinze, dezesseis anos, se tanto dezessete. E comentaram, na caruda, “olha que bundinha mais linda”.
- Ah velho, mas sua bundinha não é ruim não.
- É, essas eram das gentis. Mentem sem cobrar.
- Puta papo gay porra.
- Olha o chopinho senhores.
- Opá, um brinde, às gentis.
- Às mentirosas também pô.
- Delicia, o primeiro gole é sempre espetacular.
- Caras, eu fiquei chocado com o jeito das meninas. Onde já se viu? Elas estão se comportando como a gente agora.
- Relaxa querido, o quê tem demais um elogio legal assim?
- Fiquei constrangido.
- Deixa disso, pior foi comigo, que também recebi um elogio assim, mas vindo de dois caras.
- Ficou constrangido também “ursão”?
- Claro que não, fiquei envaidecido.
- Você quer dizer “engaydecido” né?
- Ah, só porque tenho uma bunda legal sou gay?
- Não, mas achar legal que outros caras curtam sua bunda é muito gay.
- Os cachorros cheiram a bunda um do outro e ninguém diz que eles são gays.
- Cachorro é gay pra caralho, eles lambem as próprias bolas.
- Deixa de ser ignorante, eles fazem isso por higiene.
- Higiene nada, eles fazem isso porque as cadelas não sabem fazer boquete.
- Passarinho, tem jeito de trazer outra rodada irmão?
- É, pode crer, as cadelas não fazem boquete, só as cachorras.
- Deixa de ser chovinista. Não precisa ser cachorra pra fazer boquete, basta gostar do que é bom.
- Porra, isso sim foi mega gay.
- A gente tá discutindo a sexualidade dos cachorros mas quem manda muito mesmo são os gatos.
- Gato é coisa de gay, gay assumido.
- Nada a ver ignorante. Eu assisti a um documentário sobre leões; cara, eles transam muuuito.
- Cara, leão é leão, gato é gato tá ligado? Aquele bichinho que anda em telhado, bebe leitinho e mia. Gay pra caralho.
- Cara, isso tá parecendo compulsão.
- Fala sério, vocês já ouviram a barulheira que a gata faz quando transa? Porra, o gato deve mandar bem demais.
- Nossa, mas é burro mesmo e ainda passa recibo. Aquilo é parte do ritual de acasalamento sua anta, tem nada a ver com tesão.
- Pode crer; é tipo ele pedindo pelo amor de Deus para ela dar para ele.
- Passarinho, a gente tá desidratando aqui querido. Tem com vir outra rodada?
- Vocês falaram de gato e eu me lembrei de peixe. Será que sereias transam?
- Porra, se existisse transariam.
- Se transariam eu não sei, mas boquete fariam com toda certeza.
- Fariam pra quem gênio? Sereios não tem pau.
- Ah cara imagina, seria surreal um boquete de uma sereia.
- Seria caro isso sim. O motel teria de ser daqueles com piscina e depois, pra levar a mina embora, ainda teria de descer a serra.
- Maluco, vocês são burros demais mesmo. As sereias quando estão em terra firme têm pernas como qualquer mulher.
- Pode crer, mostraram isso no filme Piratas do Caribe né?
- Não sei. Eu vi no desenho da Pequena Sereia.
- Pequena Sereia? Caralho que gay! Muito gay.
- Passarinho, secou o barril? Porque aqui já era.
- Manos, falando sério, dia desses eu vi na WEB um vídeo de um golfinho querendo transar com uma mina.
- Como assim? Um golfinho e uma mulher transando? Tá maluco?
- É sério cara, eu também vi. Tinha a mina e um cara, acho que namorado, marido, sei lá. Estavam nadando com golfinhos, devia ser daqueles programas de turistas em Cancun. Ai o golfinho dá umas cheiradas nas partes da mina e vai pra cima.
- Isso mesmo, com o pau de fora. Mó pauzão do golfinho.
- Gay.
- E a mina?
- Ela fica tentando empurrar o golfinho mas o bicho é insistente.
- Mina trouxa, deveria ter transado com o bicho. Entraria para a história, ficaria famosa.
- Famosa e presa. Isso é crime.
- Que crime doido, estupro presumido porque o golfinho é inimputável?
- Crime de perturbação de cetáceo. É sério.
- Vai se foder maluco. Você tá inventando isso.
- Pode crer, ou teriam de prender uma par de manauaras já que no Amazonas a mulherada trepa com os botos.
- Porra maluco, sua ignorância não tem limite mesmo heim? Elas não transam com os botos. Eles viram homens para fazer sexo com as minas. E para disfarçar, usam um chapéu que esconde o furo no alto da cabeça.
- Que furo doido?
- Aquele por onde o boto respira.
- Que ridículo. Imagina um cara peladão e cor de rosa com um chapéu na cabeça trepando com uma índia.
- Seu débil, não tem só índia lá não ô ridículo. Parece americano.
- Cor de rosa nada, eu ví um filme que o boto virava o Riccelli, todo morenão. Era legal porque ele fazia uns trejeitos como se fosse um boto mesmo.
- Riccelli morenão. Puta comentário gay heim?
- Passarinho, você vai ficar sem caixinha hoje querido. Os copos já estão todos vazios.
- Achei. Está aqui na internet. Lei 7643/87 artigo primeiro. “Fica proibida a pesca, ou qualquer forma de molestamento intencional, de toda espécie de cetáceo nas águas jurisdicionais brasileiras”. A pena pode chegar a cinco anos.
- Caralho. É sério. A porra da lei existe mesmo.
- Que bosta, então não posso transar com a sereia?
- Eu não estaria nem aí, se encontrasse uma sereia eu transava, nem que tivesse de ficar preso depois.
- Nada a ver ignorante. Sereia não é cetáceo. Só golfinhos e baleias.
- Só se fosse uma “seleia” né? Tipo, metade mulher metade baleia.
- Aí é ruim. Por “seleia” eu não encaro cana não.
- Talvez a pena fosse reduzida já que é só meio cetáceo.
- Ah, qual é, não curte uma gordinha não?
- Curtir ele curte, mas tem medo de não dar conta porque tem o pau pequeno.
- Qual é maluco, desde quando você conhece meu pau?
- Porra, olha aí o papo gay de novo.
- Senhores, mais uma rodada chegando.
- Boa Passarinho.
- Um brinde, um brinde.
- A quê?
- Aos cachorros. Que são capazes de lamber as próprias bolas.
- Tem certeza de que lamber as próprias bolas não é gay?
- Acho que não, sei lá, que se foda.
- É, pode crer. Aos cachorros então.
- Aos cachorros – uníssono.

J.S. (A. Masini)

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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini