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Das heranças valorosas

Numa manhã há bastante tempo passada, meu pai, me vendo calado e arredio, despretensiosamente como quem dá bom dia, me disse: “Alguns problemas a gente consegue resolver sozinho; para outros, precisamos de ajuda”.
Eu o olhei tentando fazer cara de quem está absolutamente seguro, sorri, respondi um “valeu” desprovido de qualquer reflexão e voltei aos medos que me atormentavam naquela manhã. Embora me lembre exatamente quais eram, no contexto atual, me parecem hoje tão pequenos que não vale comentar.
Na tarde daquele mesmo dia procurei meu pai logo depois do almoço e o inqueri:
- Se eu pedisse sua ajuda para resolver coisas que não sei como resolver, não iria te parecer incompetente aos seus olhos?
Ele me olhou de cima a baixo como simulando alguma dúvida, depois me olhou nos olhos e respondeu:
- Que tipo de amor seria o meu se te julgasse de forma tão cruel?
- Pai, minha maior preocupação é não desapontar ao senhor, a mamãe e às minhas irmãs.
- Todos nós, num momento ou outro de nossas vidas, vamos despontar alguém em nossos caminhos. E você está certo em se preocupar, desapontar a quem amamos machuca dos dois lados.
Naquele momento senti meu sangue gelar. Suas palavras reforçavam meus medos. E ele continuou.
- As pessoas a quem amamos, são mais amadas à medida que encontramos nelas um sentimento reciprocou, caso contrário, sem reciprocidade, o amor por elas sucumbiria e logo deixariam de ser importantes. Esse amor mútuo filho, implica em confiança e pedir ajuda é justamente exercitar essa confiança. É, em essência, exercitar o amor reciproco.
Estava ainda meio confuso; pedir ajuda era bom ou ruim?
- Acho que não entendi pai.
- Senta aqui comigo – e apontou a beirada da cama – é normal, em qualquer idade, e te digo isso porque eu mesmo às vezes daria um braço para ter os conselhos do seu avó, que eventualmente a gente não consiga enxergar as possíveis soluções para situações que a vida nos apresenta. Isso nos assusta e o medo do desconhecido turva nossa visão, nos tira o objetivo, não permite que encontremos o melhor caminho.
- Sei, ficamos inseguros não é?
- Isso, inseguros. Porém, há nada de errado em sentir-se assim, em reconhecer que às vezes as dificuldades parecem ser maiores do que a gente. Menos errado ainda é pedir a ajuda de quem confiamos.
- E se a pessoa para quem pedimos ajuda achar que o problema é uma coisa besta?
- Melhor, mais facilmente essa pessoa poderá te ajudar a solucioná-lo. Achar que seu problema é besta, como disse, não indica que você seja uma besta (riu).
- Indica o que então pai?
- Indica que você está aprendendo, mais ainda, indica que você confia na pessoa a quem recorreu e vê nela a experiência e generosidade suficientes para te socorrer. Indica que você pode não conhecer os caminhos, mas que está disposto a enfrentar as dificuldades que deles decorram. Indica que você tem coragem também para reconhecer suas dificuldades, indica, sobre tudo, que você não é um fraco embora se sinta fragilizado.
- Então, pedir ajuda não é sinal de fraqueza?
- Não meu filho, não é sinal de fraqueza e sim de que você é humano.
- Não é motivo para desapontar a pessoa que nos ama?
- De jeito nenhum, não mesmo, ao contrário, você estará dizendo a essa pessoa que confia nela, a ponto de abrir a ela sua a intimidade, o seu coração.
- Valeu pai, agora estou em paz.
- Quer me dizer agora qual era o problema que te preocupava antes do almoço?...

Meu pai morreu cedo, há muito tempo infelizmente, mas o reencontro todos os dias observando os valores que me deixou, praticando as lições que me ensinou, percorrendo o caminho estreito porém bem sinalizado que me indicou. Valeu pai, e só para constar, quando te reencontro, estou em paz.

A. Masini

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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini