Se resolver usar meus textos para finalidades pessoais, por favor, tenha a delicadeza de citar a fonte.

Carinho é a melhor resposta

Já era tarde, provavelmente inicio da madrugada quando me levantei do sofá onde me encontrava adormecido. Não é comum sentir-me com sede durante a noite mas naquela, acho que em razão do vinho tomado pouco antes, acordei com a garganta seca e me vi forçado a ir até a cozinha antes de ir para a cama.

Me servi de um copo de água e como o sono me havia abandonado resolvi toma-la na varanda observando a rua.

Não sei exatamente que horas eram, mas tudo jazia quieto, até mesmo o som dos carros havia sumido. Tal silêncio me permitiu ouvir, na varanda abaixo, mãe e filha conversando sobre o rompimento do namoro da menina.

A principio não identifiquei com clareza o tema da conversa e o que realmente me chamou atenção foi o tom choroso da minha pequena vizinha. Entre um lamento e outro, que sua mãe com carinho típico tentava consolar, percebi que a dor da garotinha, embora de tenra idade, algo em torno de dez, onze anos, não era menor do que a dor sentida por alguém mais experiente vivendo a mesma situação. Possivelmente ao contrario, sua pureza de coração a fazia sentir-se, além de triste, diminuída, ferida em sua autoestima, traída em sua boa fé.

- Mãe, ele não quer mais me namorar. Isso dói tanto mãe.

- Querida, vocês são crianças ainda meu anjo. Você vai se apaixonar muitas outras vezes.

A mãe estava correta em sua afirmação, mas não me pareceu ter escolhido o melhor argumento para confortar a menina, afinal, como explicar para uma criança que nós adultos, do alto de nossa arrogância, imaginamos que suas dores deveriam ser menos sentidas porque outras dores ainda as acometerão ao longo de suas vidas?

- Mas mãe, ele não teve nem a consideração de vir falar comigo. Pediu a um amigo para me entregar um bilhete dizendo que queria terminar.

- Querida, isso não te diminui em nada meu bem.

Tinha razão novamente. A dignidade de uma pessoa não pode ser relativizada; não pode ser reduzida pela ação de outra pessoa. Mas, de novo, achei que seria inútil a colocação da mãe. A criança estava ressentida e não poderia elaborar racionalmente tal conceito; “argumentos racionais não atendem às necessidades emocionais”.

- Mãe, eu me sentia tão feliz na companhia dele. Como vai ser agora?

- Vai passar querida, você vai ter de ter paciência.

Como pedir a alguém cujo coração conheceu a alegria de compartilhar, a doçura de comungar, o encanto de devanear, para que tenha paciência? Como convencer tal coração, puro e branco, de que a felicidade provada e prematuramente abreviada deve ser entendida como sublimação?

Já sentia os olhos arderem por empatia com a angustia da menina quando ela própria apontou o caminho para uma solução, momentânea de fato, mas que nos permitiria a todos irmos para nossas camas.

- Mãe, me abraça?


A. Masini

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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini