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Efeitos da Primavera

Me considero um sujeito observador, especialmente quanto às belezas que por sorte surgem em meu caminho.

Há dias porém venho me questionando se em anos anteriores minha acuidade esteve comprometida ou se é Primavera deste que resolveu se mostrar mais vaidosa, mais estimulante e inspiradora. Mais eufórica. Melhor dizendo, mais inebriante.

Todavia, algumas sensações quando descritas em palavras por quem com elas não nutre integral intimidade, assumem tradução muito aquém do que realmente são e ficam, então, empobrecidas, desprovidas da grandiosidade com que foram forjadas; injustamente envoltas na mesma opacidade do espirito sem criatividade que as tentou, por seus parcos meios, descrever.

Para não correr tal risco, recorrerei a um termo que embora tangente ao calão, não deixará dúvida qualquer quanto ao quê tenho sentido ao ver como tudo que é floral tem se apresentado repleto de flores de setembro pra cá. Tesão. Sim, tesão nos olhos, nos pulmões, no plexo solar, na alma.

Tesão primaveril que invade o corpo através dos sentidos, reverbera nos ossos e aflora na pele em ondas de arrepios.

Tesão pelas formas, pelas cores, pelos aromas, pelos sabores, tesão que imagino se estampe mais claramente nas flores porém distante de encerrar-se nelas vez que está no ar, na brisa, no sereno. Nas manhãs frescas e nas noites quentes.

Tesão tão bem traduzido no alvoroço dos casais de maritacas que toda manhã revoam por meu bairro, nos apelos afinados do sabiá madrugador que vara as noites as enchendo de música, na avidez das abelhas que invadem fecundas os meandros aromáticos das orquídeas, na lua que brinca de mostra esconde com fiapos de nuvens como se esses fossem lenços de seda fina, na luz pálida desse mesmo luar que fria, ao tocar a pele da morena, ganha calor e cores únicas, no decote generoso das meninas que exibem taças onde os meninos imaginam dessedentar seus devaneios.

E por ai vai, tesão feito e efeito de tudo isso que a primavera traz em seu bojo formando essa alquimia catalisada por luz, matizes e perfumes. Uma energia diferente, perceptível em tempo integral, até mesmo durante o sono, quando em sonhos permeados de êxtase, nos sentimos carregar aturdidos para lugares exóticos de atmosfera densa e sensações singulares de prazer.

É, essa Primavera que tinha tudo para ser nada, tem-se revelado amiga generosa, amante carinhosa; mais do que apenas tela, palco, farto em festa para sentidos atentos.















J.S. (A. Masini)

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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini