Se resolver usar meus textos para finalidades pessoais, por favor, tenha a delicadeza de citar a fonte.

Resgate

– Anjo?
– Johnnie.
– Tá tomando o quê querido?
– Gim-tônica.
– Meu pai dizia que isso é perfumaria.
– Tinha razão, tem cheiro de flor. Você não tinha sumido?
– Por uns tempos, mas já voltei. E você, vai continuar se escondendo?
– Ainda não quero me mostrar.
– Entendo. Alguma coisa que eu possa fazer?
– Pede alguma coisa para beber e me faz companhia. Me conta do seu retiro.
– Passarinho, me traz um Jack com gelo.
– Jack Daniel’s a essa hora Johnnie?
– Desde que horas você tá bebendo?
– Sei lá. Que horas são?
– Acho que umas oito, oito e meia.
– Você continua não usando relógio?
– E você pelo visto deixou de usar.
– O que é o tempo Johnnie?
– Não sei Gabriel. Sou o porra louca lembra? Você é que é o cara do pensamento profundo, das ideias filosóficas.
– Tanta preocupação com o “bom”, com o “ético”. Pro inferno tudo isso. Passarinho, traz um Jack pra mim também.
– Até que enfim Gabriel, abandonando o estoicismo para abraçar o hedonismo – risos.
– Você continua burro Johnnie, hedonismo tem a ver com a felicidade advinda do prazer. Eu não me sinto nem um pouco feliz atualmente.
– Advinda é? Ah... acho que entendi – pegando o copo do amigo e olhando dentro do mesmo – achei que fosse a felicidade que você estava procurando lá no fundo.
– Eu te convidei para me acompanhar na bebida, não para me aporrinhar com seu julgamento obtuso.
– Ok, tentarei não ser obtuso. Clarezaaa, você está aí? – ainda olhando para dentro do copo do amigo.
– Vai se foder Johnnie, o que você tá querendo? – tomando o copo da mão do amigo.
– Beber com você como bebíamos antes e você tentava me ensinar coisas como conduta moral ou o quanto vale a pena viver de forma ética.
– Desculpa. Pelo jeito aprendeu alguma coisa. Você está certo, estou mesmo me sentindo hedonista, na concepção mais rasteira do termo.
– Ela te tirou tanto assim é?
– Me deu muito, tanto que não sei calcular, mas levou tudo consigo, o quê trouxe, o quê eu tinha; e pior, o quê acreditei que criávamos juntos.
– O que é seu continua aí irmão. Nesse seu coração enorme, nesse espirito iluminado, nas tantas estórias de que é composta a sua história de vida. Seus valores Gabriel. A gente não te chama de “anjo” só por conta do seu nome.
– Nefelin seria mais apropriado.
– Você se sentirá melhor se eu ficar com peninha? Deixa de ser chorão. Somos cascudos, lembra?
– Me sinto perdido. Ela era a motivação dos meus passos, minha força e coragem, meu norte.
– Sabe que sempre gostei mais do sul?
– Sem ela me sinto sem rumo. Me sinto de joelhos.
– É agora que jogo a toalha?
– Estou cansado.
– Passarinho, traz um energético pro Anjo aqui.
– Vai se foder Johnnie...
– De novo?
– ...tá aí me criticando mas você saiu de cena por quanto, cinco, seis meses?
– É, acho que foi mais ou menos isso.
– Então me dá um tempo porra. Eu preciso. Eu não fiz um plano “B” entende? Jamais pensei que fosse precisar.
– Entendo sim irmão. Só não espere que eu tenha peninha de você. Eu voltei e quero meu parceiro de volta também. Escuta. Tá escutando?
– Escutando o quê seu doido?
– A vida irmão; a vida nos chamando.
– Você é muito louco mesmo né? Porra, você fez falta sabia? Me dá um abraço.
– Também senti a sua Gabriel. Não estava feliz no “exilio”, não tinha com quem brigar – risos.
– Por onde andou?
– São José dos Ausentes. Que por sinal é no Sul.
– Caralho Johnnie, até o nome é deprê.
– Deprê nada, só é como eu me sentia, ausente.
– Me conta?
– Um dia conto; mas não hoje. Estou com fome, você não?
– É, comeria alguma coisa sim. O que você acha de irmos à Tratoria tomar um brodo?
– Seguido de um filé?
– Com espaguete.
– Perfeito. Vamos no seu carro. Mas eu dirijo; porque você está breaco.
– Você está sem carro?
– Estou de moto, mas não quero correr o risco de você vomitar nas minhas costas. Bora lá chorão, procurar a tal da ataraxia num prato de macarrão.

A. Masini

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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini