Penso que estejamos vivendo tempos em que a opulência tornou-se necessidade. Nada parece ser bastante.
Sofremos por protelar uma alegria que, vivendo assim, jamais experimentamos e como consequência vem essa espécie de “carência criada”, essa constante inquietação de “querer sempre mais”; quando nesse ponto, jazem vazios nossos corações. Vazio que fere a alma e envenena a essência; nos faz indiferentes às relações de amor verdadeiro, à família e até aos valores éticos, ética no sentido próprio, a “arte do bom”.
Vazio advindo do esquecimento, vez que nos esquecemos como é ser feliz com o simples, com o frugal, porque a moda, essa eterna sedutora, os distorceu aos nossos olhos, atribuiu-lhes sentido negativo e o simples, o frugal, deixaram de ser sublimes para se tornarem sinônimos de fracasso, de derrota.
Com isso tentamos, em desespero, suprir a “necessidade criada” de sermos reconhecidos nos bens que acumulamos, nas farras etílicas e gastronômicas a que nos entregamos, nos objetos desnecessários que possuímos, no numero de romances de uma noite a que nos lançamos.
Por termos esquecido quem somos em essência, desaprendemos a reconhecer a essência do outro e até mesmo a olhar-lhe nos olhos; esquecemos como é reconhecer e sentir através da empatia. Já não ousamos sequer tentar vestir a pele do próximo para experimentar seus incômodos, seus medos, suas necessidades. Distanciamo-nos do próximo. Centramos nossa atenção cada vez mais em nossos próprios umbigos nos esforçando para adorná-los com “piercings” de diamantes onde possamos anestesiar, por hipnose, as buscas inconscientes dos nossos olhos.
Assim, a essência do Natal dilui-se em espumantes caros e qualquer culpa inconveniente que fortuitamente nos reste é prontamente sufocada com farofa e pernil. Com taças de cristal fino brindamos sofismáticos o espirito do Natal que há muito apenas nossas palavras praticam, e embora seja apenas o líquido nelas borbulhante que eventualmente traga o nome dessa ou daquela “viúva”, a orfandade já atingiu a todos nós.
A. Masini
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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo