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Correspondência

Oi Teté

Fiquei feliz com sua carta.

Todo dia leio um pouquinho dela outra vez e mesmo lembrando tudinho que já tinha lido ontem, fico alegre de novo.

Gostei das coisas que me contou e fiquei imaginando cada uma delas. O passeio no zoológico com a escola, a festa de aniversário da sua prima, o carro novo do seu pai, o almoço no restaurante chique. O que é um risoto?

Mas de tudo que contou, o que mais gostei, foi da sua letra. Tão redondinha, tão caprichada. A vó falou para eu tentar fazer assim também, mas não consigo.

Aqui é sempre muito quente mas a tia me faz por roupa e sapato todo dia mesmo se não for dia de escola. Ela disse que já estou mocinho para andar de cueca, mas eu só tenho 8 anos Té, não é justo.

Sabe, as coisas por aqui andam meio tristes. A vó continua doente e a tia Lucia está muito preocupada. Às vezes eu escuto ela chorando e fico com medo da vó morrer.

Semana passada eu cai da amoreira e o Seu Túlio veio me ajudar. Ralei tudo, bati a cabeça e fiz um corte no peito que saiu muito sangue mas já tô bom. A vó cuidou de mim. Eu queria poder cuidar dela também, mas não sei como.

Um dia apareceu uma casa de vespa no pé de limão lá do quintal, aí a tia Lucia pediu para o Seu Túlio tirar porque ela tem medo da picada da vespa. Então eu ofereci para ajudar e a tia disse que não, que eu não sabia fazer aquele serviço. Então, enquanto o Seu Túlio fazia uma tocha pra por fogo na casinha das vespas, eu peguei uma chiringa de carnaval, enchi de álcool e espirrei na casa das vespas. Deixei o álcool escorrer pelo tronco do limoeiro e pus fogo. Puts, fez um fogaréu e o Seu Túlio veio correndo apagar.

Foi engraçado, mas a tia ficou muito, muito brava comigo, disse que eu podia ter me machucado. Ela acha que eu não sou esperto. Daí a vó falou com ela e ela acalmou, me deu um abraço apertado e um monte de beijo. Não entendi nada mas foi gostoso.

Sabe, acho que vou fazer um canteiro de flores para a tia Lucia. O Seu Túlio tem semente de abóbora. Eu vou pedir para ele me dar algumas e faço um jardim. Você já viu a flor da abóbora? É amarela e muito bonita, quando eu for de novo aí para São Paulo eu levo uma pra você. E depois, quando nascer as abóboras, a vó faz doce. Eu levo pra você também, se sobrar.

Eu queria escrever mais, mas eu já fiquei com a mão cansada, o que é uma pena, porque eu queria te contar do ninho que a coruja fez lá no terreiro, da lagarta colorida que eu achei na horta e a vó disse para não matar porque ela vai virar borboleta, do cachorrinho de três patas que eu ví quando voltava da escola, de uma noite que a lua ficou tão grande, tão grande, que deu vontade de chorar, mas eu não chorei.

Tchau Té, até a próxima carta.

João Marcelo

A. Masini

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O aprendizado se dá por tentativa, erro e a correção do erro. No meu modo de ver, o erro é uma ferramenta de aprimoramento. Assim, te convido a deixar seu comentário. Abraço, Aldo

Às vezes

Às Vezes


Às vezes,
minhas palavras não são capazes de traduzir com clareza tudo em que penso,
aquilo que sinto
e menos ainda o quê me vai na alma...
Às vezes,
meus pensamentos correm rápidos demais e não consigo acompanhá-los,
meu coração bate rápido demais,
como se desejasse fugir de dentro de mim,
ganhar independência, vida própria.
Às vezes, é minha alma que deseja correr,
partir para longe,
longe desse coração que sente e se ressente,
longe desse corpo que envelhece e se condói,
longe desses tantos pensamentos conflitantes,
longe dessas palavras que se perdem em enganos grosseiros
longe de tudo que macule o amor puro e branco
que minha alma tem pela vida.

A. Masini


Um mundo novo por detrás das palpebras

Um mundo novo por detrás das palpebras


Te enxergo tão bem quando de olhos fechados
que quando os abro,
nos efemeros instantes que ainda dura o lume do seu sorriso,
um mundo novo se descortina diante minha retina.
Nele, tudo é mais vivo
tudo é mais iluminado
tudo é mais colorido.
E minha vida,
a que ainda restou dentro de mim
me diz que esse bocado de existência,
sensivel apenas por suspiros
ou lágrimas fugidias desses mesmos olhos quando ha mais tempo abertos,
pode valer a pena
se o piscar dos meus olhos for mais lento, mais freguente
porque só quando os fecho
consigo observar o que há dentro de mim,
no centro do que sou.
Lá, você ainda permanece a mesma,
que um dia por mim também se apaixonou.

A. Masini


Apartados (antes mesmo de unidos)

Aparados



De onde vem esse seu poder de transformar meus dias? De reunir cada uma das nuvens escuras de chuva e fazê-las dissipar, para em seguida, surgir o sol, iluminando cada canto escuro de minha alma atormentada?

De onde vem esse encanto, que me faz depositar cada uma das minhas esperanças nos sonhos que seus sorrisos me promovem?

De onde vem esse sentimento que me invade os olhos, corre por minhas veias, toma meu corpo e se instala em festa em meu coração a cada oportunidade que tenho de te ver?

Que coro angelical é esse que canta pra mim sempre que te ouço?

Que mulher é você, que parece ter sido feita sob medida para meus abraços, beijos e carinhos?

Que vida afinal é essa, que apesar dessas tantas coisas que me põem na sua direção, ainda assim nos manteve apartados de tudo isso?



A. Masini